Teca
uma semana sem você
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Dia 15/6/16,
Teca me mandou essa poesia do Fernando Pessoa via Whatsapp. Muito linda e muito ela. Uma lembrança do que esperavamos uma da outra. Uma despedida.
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Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.
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Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
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Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
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Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
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Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
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Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.
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Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
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Dia 16/6/16,
Conversamos muito ao telefone, falando sobre nossas vidas atuais, o que nos afligia, e ainda comentei que 53 anos atrás jamais poderíamos prever que hoje estaríamos conversando sobre situações inimagináveis para duas meninas do Colégio da Imaculada Conceição.
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Dia 17/6/16
Chamei a Teca no Whatsapp, mas não atendeu… Um amigo de juventude, me chamou e perguntou: “O que houve com a Teca, você viu no Facebook?” Foi assim que eu soube, aqui, do outro lado do hemisfério. Chorei, gritei, mas não adiantou. Me senti tão impotente diante do inédito, do inexperado e do inexorável.
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Postei fotos antigas e desfocadas do tempo de ginásio. Outros tempos, outras vidas. Fiquei admirando sua beleza suave. Rezei e acendi velas. Troquei o nome de outras amigas que me consolaram, pois sem querer as chamei de Teca.
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Passei a semana lendo as mensagens que trocavamos, e até lhe escrevi uma dizendo que já estava com saudades. Tudo que li parecia até coisa nova, porque a ficha foi caindo e comecei a revisitar nossa amizade, assim como relia todas as mensagens da Tequinha, com tanto amor, carinho, amizade e delicadeza. Que privilégio ter sido tão bem tratada e amada, mas foi recíproco.
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Teca: amiga, irmã e comadre,
Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível.
Fernando Pessoa.